Educação no campo
A professora de Língua Portuguesa, Ilúcia Silva Ferraz, leciona há dezessete anos no colégio Municipal Antônio Machado Ribeiro, em São João da Vitória (BA), e nessa entrevista nos fala sobre as dificuldades enfrentadas pelos profissionais da educação que trabalham na zona rural.
EXTRA!ordinário: Como se deu a instalação do colégio Municipal Antônio Machado Ribeiro?
Ilúcia: O colégio foi construído devido à necessidade de facilitar à educação dos moradores da zona rural, tendo ajuda dos movimentos sociais e sindicais ligadas a realidade do campo.
EXTRA!ordinário: Existe alguma diferença na aplicação da política pedagógica entre o educador urbano e o rural?
Ilúcia: É uma concepção política pedagógica voltada para a necessidade do homem de campo vivenciando sua realidade.
EXTRA!ordinário: Como funciona a locomoção do professor para a escola no campo?
Ilúcia: Geralmente o professor que ensina na zona rural reside na zona urbana e por isso ele precisa se deslocar para poder trabalhar e para isso se faz necessário à utilização de transporte esse que geralmente é precário feito com licitações irregulares, comprometendo o rendimento do profissional que se desloca para poder dar aula.
EXTRA!ordinário: Como deve ser o perfil do professor da zona rural?
Ilúcia: Muitas dessas escolas têm profissionais que ainda não tem nível superior e os que têm não possuem uma formação adequada para atuar como professores na educação do campo. Por isso se faz necessário capacitar esses profissionais para que os mesmos possam atuar vivenciando a realidade do campo.
EXTRA!ordinário: Percebemos que lecionar no campo é uma tarefa difícil, quais outros desafios você enfrenta no dia a dia da escola?
Ilúcia: Como é inerente da realidade do campo onde a criança costuma trabalhar junto a sua família para garantir o sustento de todos. As escolas do campo vivenciam essa realidade de evasão com muita frequência e também do trabalho infantil onde a criança é um braço de trabalho a mais para a família. Dificultando assim a mudança dessa realidade. Outro desafio são as salas multisseriadas e superlotadas que são sinônimos da precarização da escola do campo, pois observamos o descaso do poder público com os moradores do campo. É preciso uma proposta pedagógica que possa capacitar esses profissionais para trabalhar com a realidade das salas multisseriadas.
EXTRA!ordinário: Como é o investimento do governo nas escolas do campo?
Ilúcia: Como novo tema do Governo Federal “Brasil Pátria Educadora” podemos sentir, como educadores do campo, que esse tema ainda não é nossa realidade. O Programa Nacional do Campo (Procampo) não tem a educação como um compromisso de mudança. Faz-se necessário um investimento maior no profissional, nas estruturas físicas da escola e nos recursos para realizações dos projetos pedagógicos.