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Deixa, deixa, deixa eu dizer

Por Ariana Firmino

     Em uma dessas costumeiras reuniões entre amigas conheci a música Stressed Out da banda Twenty One Pilots, foi paixão na certa.

     A canção traz o mesmo discurso que de tempos em tempos alguém com mais entendimento da vida vem nos dizer. Em 1943, Antoine de Saint-Exupéry nos trouxe essa reflexão em um simples parágrafo de sua obra O pequeno principe: "As pessoas grandes adoram os números. Quando a gente lhes fala de um novo amigo, elas jamais perguntam: "Qual é o som da sua voz? Quais os brinquedos que prefere? Será que ele coleciona borboletas?” Mas perguntam: "Qual é sua idade? Quantos irmãos tem ele? Quanto pesa? Quanto ganha seu pai?" Somente então é que elas julgam conhecê-lo." Stressed Out nos traz o mesmo pensamento, mas de forma diferente.

     A música fala sobre um cara sentindo as dores da vida adulta – compromissos, obrigações financeiras e várias Et Ceteras – e esse cara não sente só as dores da vida adulta como tem nostalgias da infância. No clipe dessa música o pescoço e mãos do vocalista estão pintadas de tinta. Em entrevista ele disse que essa manifestação visual faz referência ao que ele sente quando percebe que seus anseios são frustrados pelas características da vida adulta: sufocamento. Bom, o interessante de ter conhecido essa música recentemente é que ela caiu como uma luva nesse momento da minha vida – momento esse que já dura há bastante tempo. Eu também estou sentindo as dores da vida adulta, eu também sinto saudades de ir pra casa da Sara e ficar ouvindo os CDs do irmão mais velho dela e conversar sobre os lançamentos de Harry Potter e sobre como os calçados All Star que a Avril Lavigne usava eram sujos e que isso estava se tornando moda.

     Daí outro dia desses eu ouvi uma mulher conversando com outra no ônibus sobre como o tempo tem passado cada vez mais rápido e as duas concordavam e filosofavam sobre isso. Por fim, a primeira senhora afirmou que o tempo está passando tão rápido quanto aquele ônibus naquele momento e se despediu dizendo que tava com muita pressa pois tinha que buscar a filha na escola e deixá-la na aula de natação em sequência.

     Não estaria o tempo tentando nos acompanhar? Toda essa demanda do mundo pós moderno que nos obriga a acordar cedo e ficar o máximo de tempo fora de casa produzindo cada vez mais dinheiro e bens de consumo e com todas essas obrigações de ser cada vez mais um humano super herói que domina várias habilidades profissionais faz a gente correr, mas correr tanto que muitas vezes nem o tempo consegue nos alcançar. E o problema é que muitas vezes deixa de ser uma correria por satisfação pessoal ou por um bem coletivo, muitas vezes é questão de disputa. Disputa financeira, disputa de ego, disputa de quem chega primeiro.

     Parar pra relaxar se tornou um crime digno de julgamentos, toda vez que eu decido ter um dia leve sem grandes atividades, assistir alguma coisa agradável, ter uma leitura vagabunda ou apenas jogar Halo, uma parte em particular da letra de Stressed Out perturba a minha mente: Wake up, you need to make money.

Mas enfim, me despeço dessa crônica também às pressas, tenho que ir trabalhar num bico de panfletagem que arranjei numa agência de publicidade, no caminho vejo se consigo ler umas três páginas do Pequeno Príncipe. Adeus.

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