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E se cada uma de nós se amasse em plenitude?

Por Sáthia Vitória

      Todos os dias, milhões de mulheres e se olham, olham de novo, olham mais uma vez e tornam a se olhar no espelho, imaginando como a sua perna, o seu braço, a sua barriga, o seu nariz ou o seu cabelo, a sua pele ou o seu quadril poderia ser maior, menor, mais brilhante, menos flácido, mais bonito. 97% por cento delas. Quase todas. Todos os dias. Em todo o mundo.

      Não é mania apenas das brasileiras ou das estadunidenses, sonhar com o corpo perfeito. Infelizmente, o que nos é imposto, desde que nascemos, tanto pela mídia quanto pela sociedade, ou pelas duas ao mesmo tempo, é que devemos ser lindas por fora, acima de tudo, para que sejamos bem sucedidas, invejadas e desejadas.

      Tudo não passa de uma política de mercado. Marketing. Capitalismo. Avidez pelo lucro. O que as grandes empresas de beleza sempre quiseram foi nos fazer acreditar na necessidade quase vital que temos de consumir “essa imperdível oportunidade de se tornar linda”. Sempre quiseram nos fazer acreditar que precisamos suar feito porcas nas academias de musculação para ter “pernas torneadas e definidas”. Sempre quiseram nos fazer acreditar que precisamos enfrentar mesas geladas de centros cirúrgicos, pintados de um verde nada empolgante, para “ter cinturas finas e modeladas”.

       E acreditamos. Suamos feito porcas e caímos feito patinhos. Fato: não nos amamos o suficiente. E a culpa não é nossa. Como robozinhos programados, reproduzimos o que os grandes líderes de opinião querem. Mesmo sem saber, reproduzimos machismo, racismo, às vezes homofobia e ódio perpétuo aos nossos corpos. E a culpa não é nossa.

       Apesar dessa quantidade exorbitante de mulheres “insatisfeitas” – possivelmente você, leitora, está se identificando com esse texto de algum modo -, não somente 97%, mas 100% de nós podemos mudar uma coisa bem mais importante do que a largura do nosso quadril: podemos mudar a nossa perspectiva. Somos lindas o bastante. Somos suficientes. Nós nos bastamos. Nós podemos. Nós iremos. E ninguém vai nos impedir. Devemos gritar isso ao mundo, a começar pelos nossos espelhos, todos os dias. Não precisamos acatar os discursos maçantes e inconvenientes das propagandas midiáticas. Não precisamos frequentar academias de musculação, tampouco frequentar centros cirúrgicos, por padrões estéticos. É claro, fugir do sedentarismo, buscando sempre manter uma vida ativa e saudável é essencial para o nosso dia-a-dia e para a nossa longevidade. É fato que precisamos cuidar das nossas saúdes. Mas até os nossos cuidados têm sido manipulados e convertidos pelo sistema não como algo que fará bem à saúde da mulher, mas que fará bem à estética da mulher. E, francamente, não é isso o que nos importa. Não podemos ser confundidas pelos moldes da ditadura da beleza.

      Sejamos gentis. Vamos nos olhar no espelho e reparar no que antes chamávamos de “ruim” com mais amor, vamos dizer mais “tá ótimo, tá lindo!”. Vamos nos amar mais. O que precisamos, e devemos, é ser felizes do nosso jeito. Sendo perfeitamente imperfeitas e amando os nossos defeitos, pois cada um deles nos faz únicas.

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