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Suplício de uma saudade

Por Caren Gabrielle

Romance, 1955

Duração: 102 minutos

Direção: Henry King

Roteiro: John Patrick

Atores principais: Jennifer Jones, William Holden

Se você tiver alguma dúvida sobre o que é um clichê, então este é um filme que resolverá o seu problema. Baseado no livro de Han Suyin, a história da Dra. Suyin, uma viúva que prefere se dedicar exclusivamente ao trabalho, e do jornalista Mark Elliot, correspondente internacional que não consegue se divorciar da ex-mulher, encantou gerações de romanticos incorrigíveis ao longo dos anos, inspirando uma telenovela americana de mesmo título doze anos depois.

Mas, se você não se enquadra no esteriótipo acima, muito provavelmente vai ter dificuldades para engolir essa trama. Afinal, como podem duas pessoas se amarem em apenas dois encontros? Interesse? Tudo bem. Uma paixonite? Aceitável. Mas amor? A sensação que fica é de que o roteirista esqueceu-se de nos contar alguma coisa, uma parte da história simplesmente se perde no meio do caminho.

Outras provas dessa falha estão na mudança brusca na opinião dos personagens e no comportamento imprudente dos mesmos, sem nunca questionar a sanidade de suas escolhas, tudo em nome desse novo sentimento. Isso não é lá muito verossímel, e nos deixa a sensação de que essa história está acontecendo em uma bolha suspensa no ar, e não aqui na Terra, com seres humanos como nós.

 O romance impossível, fadado ao fracasso pela sociedade em que os personagens estão inseridos ao menos discute uma questão relevante: o preconceito étnico sofrido pela personagem principal, uma mulher euro-asiatica (em parte inglesa, em parte chinesa) que abriu caminho em sua área profissional em meio à outra cultura que, em 1949, preferia se afastar de qualquer envolvimento com seu país de origem e a revolução de Mao Tsé Tung.

Vemos em Suyin o encontro entre a tradição e a modernização, a superstição e a realidade. A mulher que assume sua decendência chinesa em tempos de crise, mas que ao mesmo tempo não volta para casa há dez anos em nome de sua carreira e realização pessoal. A mesma mulher que acredita que borboletas são bons presságios e logo em seguida vê-se demitida por conta de sua nacionalidade.

Alguns pontos positivos da película são a fotografia e a trilha sonora, sendo que a ultima ganhou o Oscar. É claro que o cenário ajuda, afinal, quase toda a trama se passa em Hong Kong, mas o posicionamento simples da camêra e os momentos peculiares que ela captura parecem combinar perfeitamente. E é claro, a canção que foi feita especialmente para o filme consegue traduzir todo o drama do enredo de maneira suave.

Mas nada disso serve para tornar o filme um pouco menos massante. O romance de pouco mais de uma hora parece uma longa tarde ensolarada em que os ponteiros do relógio não se movem. O amor não convece e os personagens não dispertam empatia. O único jeito de gostar desse filme é se você for um romântico incorrígivel!

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