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Era pra ser uma crônica sobre o amor.

Por Jhou Cardoso

             Em meio aos vários aplicativos de pegação disponível para celular - Tinder, Pof, Happan, Flert, Badoo, DateMe, Twoo -  o amor se perdeu. Amar é out, careta, babaca. Quem se apaixona é trouxa. Ninguém quer ninguém. Quer o corpo do outro e todos os prazeres que dele podem ser desfrutados.

            No corre-corre da vida moderna não há espaço para o amor. Um sexo casual no final da noite, sim - Roupas no chão, as pernas dela se abrem feito um compasso, ele introduz sua metáfora rígida, melada, por hora, sem rima em meio a gemidos mecânicos e movimentos robotizados - Não, nada de sentimentos! Ao final do ato sexual, conversas paralelas. Trocam números de telefones e promessas de uma ligação marcando um novo encontro, pois a transa foi ótima. Mal saem do quarto do Motel e já se esqueceram de tudo que aconteceu ali, o outro passou a existir somente no nome perdido na agenda de contatos do celular.

            Amor virou artigo de luxo que só existe nas poesias de Shakespeare ou nas narrativas de Caio Fernando Abreu que escancarou nas páginas de seus romances o amor que ainda hoje é considerado como marginal. Ele amava outro homem. Ah, Menotti Del Picchia! Talvez você estivesse prevendo o futuro quando escreveu: “Amar (...) é uma faca de dois gumes: não amar é sofrer e amar é sofrer mais ainda.” E como sofrem esses meros mortais que esqueceram como amar. Que não sabem como é ter alguém que chegue sendo apresentado pela vida, cara a cara, e não por aplicativos que o máximo que podem oferecer é alguma diversão faceira que termina com o nascer do dia.

            O amor se perdeu por entre as cinzas dos prédios, pela agitação e pelo ar plúmbeo, caminhamos todos feitos teatros itinerantes: de cama em cama vai se mudando de pele sem deixar marcas, passando despercebidos na vida outro. Afinal, ninguém quer se apaixonar! Porque para a paixão acontecer é preciso criar climas, servir vinho, acender velas. Isso leva tempo e tempo é dinheiro, assim nada de perder as preciosas horas do dia ou da noite com este alguém, já que se pode arrumar outro alguém de maneira mais rápida e simples: tudo se descarta, até mesmo pessoas.

            Nas minhas quimeras de louco, peço para que um dia amar volte a ser moda. E que aquela frase do “e eles viveram felizes para sempre” saia das páginas dos contos de fadas e volte a fazer parte do dia-a-dia de muitas pessoas e que estas apaguem todos os aplicativos de pegação do celular. Pode-se dizer que eu sou um sonhador, mas não sou o único. Então, te espero por uma noite ou pra vida toda? 

Marcus Lima, professor da disciplina Crítica Cinematográfica e colaborador do EXTRA! ordinário

Yarle Ramalho, diagramador digital

Élica Paiva, professora responsável

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