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Em conversa de gigantes, João não tem vez.

Por Caren Gabriele

Durante muito tempo a política pública não esteve na boca do povo como atualmente. Nos botecos, entre os funcionários dos mais variados setores, nas escolas ou filas de supermercado. A conversa que antes era aberta apenas na teoria, agora é parte do cotidiano das massas.

Ver pessoas que costumavam preferir abstenção quando o tema é política emitindo suas opiniões é uma reafirmação do significado da cidadania para o brasileiro. Significado esse que permite ao povo participar ativamente da vida política de seu país. Só que tem uma pequena problemática que precisa ser levantada: o que, afinal, esses brasileiros estão discutindo? Em meio a centenas de informações e a dezenas de perspectivas, reproduzir discursos fragmentados sem, muitas vezes, conhecer as ideias e bandeiras que carregam também se tornou comum.

Em tempos de crise, tornou-se comum ver a massa espelhar a informação que lhes foi passada sem filtrar ou racionalizar o que lhe cai nas mãos. Reproduzindo o posicionamento de amigos, familiares, dos seus orientadores religiosos ou de uma mídia que mascara seus objetivos através do recorte que dá aos fatos, sem que o público entenda realmente o tal discurso, é o caminho mais rápido para um grande abismo ao qual somos empurrados sem ao menos imaginar o que nos espera.

Um grande exemplo disso é o burburinho gerado em torno do processo de impeachment aberto em dezembro de 2015 contra a presidente Dilma Rousseff. A única acusação contra a mesma consiste em “pedaladas fiscais”, ou seja, quando o Tesouro Nacional atrasa propositalmente o repasse de dinheiro para os bancos e autarquias, como o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), por exemplo, o que não é o suficiente para continuar com a acusação. Mas continuaram. E, mais uma vez, a massa foi para as ruas, cada um levantando a sua camisa, a favor ou contra o que acontece na Câmara dos Deputados.

Como exemplo, temos as manifestações que eclodem por todo o território nacional, onde não se vê apenas protestos contra ou a favor do impeachment, mas sim dois grandes rivais, duelando para ver quem consegue mais espaço. De um lado, uma direita que veste suas camisas verde e amarela, do outro, a oposição pintando o cenário de vermelho e branco.

Só que esse “a favor” ou “contra” não supre todas as possibilidades cabíveis dentro de qualquer política. Em meio a essa polarização pregada pela mídia, quem não se sente satisfeito com o governo atual, mas tão pouco acredita que o impeachment seja válido, e que a oposição o represente, não encontra uma terceira opção facilmente. Procuramos por alternativas na grande mídia, mas elas estão tomadas pelas bandeiras já conhecidas.

Procuramos nas ruas e dificilmente alguém conseguirá apontar uma solução. Se a mesma realmente existe, não está disponível para quem precisa. Assim, acabamos arrastados pela correnteza dos movimentos que eclodem dia após dia pelo país. Dentro da terra do “era uma vez”, somos os Joãos que tentam, a todo custo, no meio desse embate, não ser esmagados pelos gigantes, partidos e posicionamentos que movem multidões, mas que pouco nos representam.

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