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BRASILEIRO ADOTA JEITO TORCEDOR PARA A POLÍTICA: No país do futebol torcer é um hábito, pensar é um privilégio

Por Victória Lôbo

O Brasil parece um estádio numa final de campeonato, em um clássico, com times desde sempre rivais, como Palmeiras e Corinthians. Está no estádio o juiz, a torcida fanática, a torcida não tão fanática, os técnicos, os jogadores e um troféu. O troféu do estádio Brasil é o poder.

Os jogos do campeonato duram um ano, assim como o ano de eleições, os times insistem em continuar jogando, permanecem empatados, passaram pela prorrogação e, com discursos ideológicos antagônicos e faltas graves de postura em campo, a partida está no seu momento decisivo, chegou aos pênaltis.

Na política, de um lado, a torcida amarela (os conservadores, a direita, e, principalmente, os PSDBistas) vibra, canta e grita esperando a derrota do adversário. Do outro, a torcida vermelha (petistas, pseudo esquerdistas e esquerdistas) está tensa,de olhos arregalados, tem medo, mas continua com a esperança de que o time reaja e permaneça com a taça.

 Impeachment: Cunha define que deputados do Sul votarão primeiro – Carta Capital (12 de abril de 2016)

"Um país dividido", dizem as grandes mídias que estão cobrindo o jogo; "os coxinhas", diz a torcida de vermelho; "os comunistas", diz a de amarelo. A partida ganha cada vez mais repercussão, cada vez mais manchetes, está na primeira página. Presenciamos, como espectadores, um momento crucial do jogo político brasileiro.

Estamos sendo bombardeados de notícias: nos veículos jornalísticos (televisivos, impressos, internet), pelas redes sociais, o que resulta, também, na conversa diária com amigos e familiares. Os políticos incitam o ódio, as grandes mídias repassam isso com muita intensidade, as pessoas se dividem por opinião. O difícil é entender se é uma opinião copiada ou advinda de uma reflexão consciente.

Nesse jogo, a atuação da mídia é decisiva. No jornal O Globo, sete matérias da primeira página são sobre o impeachment da Presidenta Dilma Rousseff; na Folha de São Paulo, são seis desde que o processo foi iniciado. As matérias são incisivas, mostram claramente uma opinião otimista para o time amarelo, o contra o governo vigente. Em contrapartida, a Carta Capital - claramente time vermelho – publica diariamente sua esperança, defende o governo avidamente e alerta um possível golpe.

 Debandada de partidos amplia o isolamento da presidente Dilma – O Globo (13 de abril de 2016)

O PT, partido que se assume como esquerda, vem tomando atitudes políticas e econômicas de cunho liberal, o que é paradoxo. O governo poderia, ao invés de aumentar os impostos, fazer reformas que reduzam os gastos da União, para garantir a sustentabilidade da dívida pública no longo prazo. Mas, então, decidem tomar medidas neoliberais, indo de encontro aos ideais de um governo que, em tese, deve se preocupar com o bem social – sendo que é nesse ideal de governar para as minorias que esse time, o vermelho, se apega para tentar vencer o jogo.

A oposição ao PT, o já citado time amarelo,diz que o governo quer implantar um regime comunista. Porém, ser de esquerda não é necessariamente ser comunista. Comunismo é um regime oposto ao capitalismo. O governo petista tem aproximação econômica com o capital financeiro e os bancos, e, por isso, não pode ser considerado comunista. 

Moro ainda vai entender que, como Joaquim Barbosa, será descartado quando não mais for útil. - DCM (10 de março de 2016)

A população, principalmente os que torcem pela derrota do time vermelho, comete o erro de tirar os encargos dos seus votos por completo, endeusam o poder judiciário e, logo, estão equivocados. O judiciário comete o erro de publicizar suas caras, nomes e ações. São antiéticos. Segundo a Constituição brasileira,o Poder Judiciário tem como função jurisdicional a solução de conflitos, porém o juiz Sérgio Moro, seguindo os passos de Joaquim Barbosa acirra as discussões e a divisão de opinião, instaurando uma Babel de ideologias e interesses tanto nos altos escalões quanto no botequim da esquina.

Para o time amarelo, a presidente comete o erro de não se expressar bem em público, como se isso fosse contra a Constituição Federal - embora a boa comunicação deva ser um dos atributos de um político. Existe uma pressão muito grande, uma pressão que chega ao âmbito pessoal, para que ela saia do cargo.

É um jogo político cíclico: entra um governo conservador (aqui representado pelo time amarelo), melhora a economia, as classes sociais mais baixas são esquecidas pelo sistema. Essas classes se revoltam e elege um governo que prioriza os problemas sociais (time vermelho), esses desfavorecidos emergem economicamente, e se tornam contra as políticas governamentais que “tira dinheiro dos ricos para dá para os pobres”, como dizem. E isso se repete.

A pessoa quanto mais tem, mais sente a necessidade de ter. Aliás, é isso que faz com que o capitalismo se sustente. A voracidade das pessoas por melhorar economicamente faz com que elas se esqueçam da sua trajetória, assumindo uma identidade que não condiz com seu percurso histórico. Porém, a nova classe média não pode ser totalmente dissociada do seu passado.

Aproveitando-se de tudo isso, as pessoas que estão nos cargos governamentais, apoiados pela mídia monopolizadora, não tratam as pessoas como seres políticos que têm capacidade de pensar. Não querem entender que dentro de cada torcida tem pessoas que pensam de maneira diferente, embora cada torcida esteja lutando por uma causa em comum (o impeachment ou a continuidade da presidenta). Nem mesmo as pessoas percebem isso, são verdadeiras massas de manobra, tanto de um lado quanto de outro.

Enquanto isso, o jogo da final do campeonato, o que vale o cargo, entra em seus minutos finais e o troféu é um cargo instável, detonado e sem credibilidade. Todos estão desgastados, esperando avidamente o placar final, e a única coisa evidente são os cartões amarelos e vermelhos que os dois lados receberam.

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