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Uma questão de esperteza...

No muro que separa os dois extremos opostos da atual crise política brasileira, feliz não é aquele que caminha em um dos dois lados, mas aquele que está acima de ambos.

Por Afonso Ribas

Oposição: “caráter, estado ou condição do que se opõe, do que é oposto; grau marcante de diferença entre coisas da mesma natureza”. Até que ponto o conceito descrito pelo Google reflete o contraste de opiniões no atual contexto político brasileiro? Até que ponto ele determina a concentração de (dois) extremos opostos marcados por interesses? Até que ponto esse conceito exige a escolha de um dos lados da moeda? Pró e contra. Anti e a favor. É somente isso? Aderir ao grupo A ou B e acabou?

O que se percebe na política brasileira de hoje não são segmentos ou polos ideológicos que se refutam e debatem entre si sobre quem ou o que é melhor para o Brasil. Mas sim, uma verdadeira proliferação de discursos tendenciosos dentro de um jogo de interesses em que o povo brasileiro não é protagonista. Pode até se achar, mas não é.

Nesse jogo, o brasileiro se tornou uma simples marionete. Engana-se quem pensa que ser a favor ou contra o Governo é se posicionar politicamente. Posicionamento político não é sinônimo de escolher um lado. É, na verdade, confrontar os discursos e opiniões acerca das questões políticas e relacioná-los ao contexto social e econômico em que vivemos para, então, chegarmos ao nosso próprio ponto de vista, às nossas próprias conclusões sobre a política brasileira.

A guerra que está sendo travada entre os grupos políticos pró e contra o Governo da presidente Dilma Rousseff é fria, mas não é como a Guerra Fria de décadas atrás. Esta última, que teve início em 1945, era mais ampla e dispendiosa, sendo que a corrida pelo poder se fundamentava na própria demonstração de poder. A guerra que presenciamos hoje em nosso país fundamenta-se no convencimento, na política da adesão: fazer com que a opinião do brasileiro coincida com a opinião (interesse) defendida pelos grupos políticos dominantes. É essa coincidência de opiniões e interesses que o sociólogo Walter Lippmann defende como o aspecto norteador na formação da opinião pública em seu livro de mesmo nome. E a resultante dessa conjuntura é a emergência de um país polarizado, onde ficar em cima do muro, ou acimadele, como aponta Eliane Brum em artigo para o El País, é quase um crime, para os que dizem “assumir um posicionamento”, equivale a ser omisso, covarde e burro. Particularmente, concordo completamente com Brum quando ela afirma que não estar em nenhum dos lados ou simplesmente estar “em cima do muro” é posição, inclusive uma posição forte.

Aliás, foi justamente um muro que, na semana de votação do impeachment na Câmara dos Deputados, se tornou o principal símbolo do que seria o ápice dessa polarização na política brasileira, sendo, inclusive, destaque na mídia internacional. Com mais de dois metros de altura e um quilômetro de comprimento, a barreira, erguida com armação de metal na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, serviu para evitar conflitos entre manifestantes a favor e contra o impeachment da presidente Dilma, votado entre os dias 15 e 17 de abril, período em que o muro de metal permaneceu erguido.

É claro que o verdadeiro muro que separa os grupos a favor e contra a continuidade do governo da presidente não foi derrubado após o fim da votação. É tolice acreditar na legitimidade de um processo de impeachment que, claramente, não tem base legal suficiente para motivar a saída de uma presidente. É tolice maior ainda direcionar, para uma única figura, a culpa de toda a crise que o país está enfrentando.

Esperto mesmo é aquele que tem a mínima noção de que o Brasil está imerso em uma verdadeira “cultura de corrupção”, originada de um processo histórico proeminentemente acentuado nos últimos anos e que, agora, vem sendo desmascarado, mesmo que aos flagelos. Esperto também é aquele que se lembra de que na lista de políticos envolvidos com corrupção divulgada pelo juiz Sérgio Moro não constam apenas nomes de dirigentes do PT (Partido dos Trabalhadores). E, só para reforçar, vale mais um significado. Esperto, segundo definição do Google: “que percebe tudo, atento, vigilante”.

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