Era apenas um menino que foi recebido pelo mundo desajeitadamente, ignorado pelo pai e pela mãe. Essas são situações corriqueiras na vida de muitas pessoas e que, possivelmente, são acompanhadas de uma carga de traumas.

     Bernardo foi uma criança criada pelos avós, envolto de amor, carinhos e mimos: como toda família deve ser. No entanto, todo esse cuidado não impediu que a ausência daqueles que lhe apresentaram à vida o causasse dor.

     Com o passar do tempo ao invés de explicitar a sua dor, ele a transformou em dureza com uma pitada de arrogância; uma maquiagem bem cômoda para alguém tão destruído por dentro.

     Aos 18 anos, Bernardo começou sua jornada em busca da felicidade, tentando suprir e superar todo o sentimento embaraçoso que nele permanecia tão arraigado.  Ele passou a alimentar seu ego com coisas fúteis e passageiras, magoando quem o amava e destruindo aquilo que ele tinha de mais lindo, o coração.

     Bernardo viveu assim durante 8 anos de sua vida, foram várias tentativas de suicídio, na última a morte quase o levara, mas um propósito maior aguardava aquele jovem, e mais uma vez a vida o abraçou.

     Foi em uma viagem de carnaval que ele começou a reaprender o que era o amor, a família e a busca pela verdadeira felicidade. Ele estava bebendo e dirigindo em alta velocidade quando bateu em um carro no meio da noite. Dentro do outro veículo havia uma família: o pai, a mãe e o filho. O pai morrera na hora, a mãe e o filho foram até Bernardo e o tiraram das ferragens perguntando se ele estava bem.

     O jovem foi tomado por sentimento de culpa que não cabia dentro de si “como é possível alguém se preocupar com a vida daquele que tirou a vida do seu amor?” pensou ele.

Agora restava a dúvida e a culpa. Será que havia um jeito para que ele pudesse se reconciliar com a vida? Era apenas isso que ele queria. Perdoar e ser perdoado, esvaziar-se de si e voltar a ser criança para crescer com sabedoria de menino, cheio de doçura e paz interior.