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Saudosismo

Por Árlei Fagundes

        Assim como a palavra Saudade, muitos brasileiros acreditavam, ou ainda acreditam que o “futebol arte” é exclusividade nacional. A dificuldade de traduzir essa palavra do nosso cotidiano para outros idiomas é uma forma – nada típica – de tentarmos demonstrar nossa exclusividade linguística.

      Já no futebol, que é a maior paixão nacional, por muito tempo imaginamos a Seleção Brasileira como uma equipe imbatível. Aquele time dos sonhos, capaz de vencer qualquer adversário com a genialidade dos seus grandes craques que sempre se fizeram presentes na história do time canarinho.

        A imprevisibilidade dos atletas brasileiros, a malandragem sul-americana, e o estilo único de praticar esse esporte jogado com os pés nos colocaram em destaque no cenário mundial, desde sua primeira conquista da Copa do Mundo, na Suécia. O desporto que naquele período – e por muito tempo – foi utilizado como um artifício para tirar o foco da política, nos dias atuais nem isso tem conseguido.

       Em meio a uma grande crise política no Brasil, o time nacional não tem animado sequer os seus torcedores mais fiéis. O olhar desconfiado do brasileiro para o futuro da nação se reflete também no esporte. Pelé, Garrincha, Zico, Romário, Ronaldo, são tantos craques que já vestiram a camiseta amarela mais conhecida do mundo, que fica até difícil reconhecer os que a vestem atualmente.

      Com a gigantesca dependência de um único jogador, a Seleção Brasileira está definhando. Seguindo os passos da política nacional, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) é hoje uma das instituições com menor credibilidade no mundo do esporte. Com dirigentes cobertos de acusações e o ex-presidente preso nos Estados Unidos, toda essa nebulosidade existente nos bastidores manifesta-se da pior maneira possível dentro das quatro linhas.

      A exclusividade de jogar bonito já não é mais nossa. A sonora goleada sofrida contra a Alemanha é a melhor forma de exemplificar essa realidade. A dificuldade de encarar as Eliminatórias Sul-Americanas mais difíceis de todos os tempos deixa claro o risco que a seleção corre de ficar – pela primeira vez – fora da Copa do Mundo.

       Em sexto colocado na zona de classificação para o campeonato mundial, a palavra que define o momento da seleção brasileira é a mesma que acreditávamos ser exclusivamente nossa: saudade. Da mesma maneira que estávamos enganados no aspecto linguístico e futebolístico, precisamos nos atentar para a nossa realidade ética e política, para não continuarmos sendo eternos saudosistas.

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