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A conquista de espaço na universidade


Islânia Barros Almeida, 20 anos, é natural de Jequié, município do interior da Bahia com pouco mais de 160 mil habitantes. Foi aprovada em duas universidades estaduais: UESC (Universidade Estadual de Santa Cruz) e UESB (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia), além de ter conquistado também a aprovação em um concurso público.

No momento de decidir em qual universidade estudar, acabou optando pela UESB. É nela que, atualmente, cursa o segundo semestre de Direito. A estudante vai à academia de ginástica semanalmente e é ainda praticante de Goalboal, uma modalidade desportiva coletiva, originariamente concebida para a prática de pessoas com deficiência visual, podendo, no entanto, ser jogada por quaisquer indivíduos, desde que para isso estejam equipados com “eyeshades” - vendas homologadas pela Federação Internacional de Desporto para Cegos (IBSA) que anulam qualquer informação visual do jogador.

Islânia perdeu a visão ainda na infância. Mas, isso nunca a impediu de buscar novos prazeres e conhecimentos. Ela não só pratica esportes, comotambém toca instrumentos – entre os quais o teclado. Participa de várias atividades em sua igreja e ainda obteve a maior de todas as suas conquistas: entrar na universidade.


EXTRA!Ordinário: Islânia, qual a sua deficiência visual?


Islânia Barros Almeida: Cegueira total e irreversível.


EXTRA!Ordinário: Quais desafios você encara cotidianamente devido à sua deficiência?


Islânia: Desafios físicos, como obstáculos móveis no caminho, utensílios de casa, restos de construções deixados em passeios, galhos de árvores, toldos de lojas baixos, orelhões e todos os outros que não possuem desvio. A bengala só alcança objetos no chão, sendo impossível desviar de algo na altura do ombro. Já os desafios humanitários vão da falta de conhecimento, por exemplo, que gera a supervalorização da deficiência, tornando a pessoa uma espécie de super-herói (ouve melhor, é mais inteligente, sabe tudo, conhece todo mundo) ou o extremo oposto, como o “cuidado com ele/ela”.


EXTRA!Ordinário: Como você reage a essa supervalorização ou a essa superproteção que as pessoas dão para a sua deficiência?


Islânia: Olha, na falta de conhecimento, é melhor perguntar o que é ou não preciso fazer para ajudar ao invés de supor e acabar causando desconforto, ou não pressupor algo inapropriado e alimentar o pensamento popular.


EXTRA!Ordinário: Como a sua família reagiu à sua escolha de seguir nos estudos acadêmicos?


Islânia: Recebi apoio incondicional. De modo preocupado no começo, o que é normal, mas hoje já há um incentivo maior para que eu compre um apartamento, more sozinha e desenvolva minhas atividades acadêmicas e profissionais com o mínimo de interferência possível.


EXTRA!Ordinário: O que te motivou a vir estudar na UESB?


Islânia: Direito é um curso inexistente em minha cidade de origem e além de ser caro custear moradia mais o valor de uma faculdade privada, o ensino de Direito na UESB é reconhecidamente muito bom. É claro que a pressão familiar por ter um irmão em universidade federal também influencia a opção por uma universidade pública.


EXTRA!Ordinário: Sabemos que quando o assunto é acessibilidade, seja em relação a qualquer deficiência, enxerga-se uma problemática ainda tratada de forma precária no Brasil. Como você lida com isso em Vitória da Conquista e na Universidade?


Islânia: Na cidade, a acessibilidade é relativamente boa. Tem um sistema de ônibus muito mais eficiente do que em minha cidade de origem, além de uma acessibilidade humana bem perceptível. Na universidade não, as trilhas táteis externas sofreram grande degradação, sendo um pouco difícil de transitar, além de não ter nenhum tipo de sinalização nos módulos para que eu possa me orientar. Mas é claro que, novamente, o apoio humano tem um papel importante. O trabalho realizado pelo núcleo de acessibilidade é fantástico e os próprios alunos costumam não negar ajuda. A cidade tem sido uma experiência enriquecedora. As pessoas, muitas delas de outros lugares da Bahia, até mesmo de outros estados, costumam ser acolhedoras. Percebo que há uma troca mútua de aprendizado e que procuram me tratar com naturalidade. No campus há uma tentativa cada vez maior. É claro que ainda há muito o que ser feito em relação aos professores e colegas, mas são coisas absorvidas com o tempo.


Por Trás do Blog

Nós, da Disciplina Gêneros Jornalísticos 2015.2, sedentos em produzir e dispostos a ouvir e sentir, nos propusemos a focar nossas lentes no dia a dia, no ordinário, naquilo que passa despercebido por muitos, e que pode virar uma boa história carregada de verdades, humanidade e sensibilidade. Convidamos você a nos acompanhar nessa experiência de ler as entrelinhas do dia a dia, porque com certeza ali encontraremos o extraordinário!

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