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Fica, querida!

Começo esse texto citando uma alerta de Simone de Beauvoir - infelizmente, tão atual e tão certo para nós, que diz: “Nunca se esqueça que basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados. Esses direitos não são permanentes. Você terá que manter-se vigilante durante toda a sua vida”.

Neste Domingo (17), durante a votação de abertura do processo de impeachment da presidenta Dilma Roussef na Câmara dos Deputados – na qual, entre 513 membros, a representatividade feminina é de apenas 50 deputadas -, ficou explícito o machismo, a misoginia e a falta de respeito presentes nesse ambiente de poder. Sabe o que acontece quando uma mulher possui um cargo de poder e tenta bradar em público?

Deputada, grávida de oito meses, foi vaiada por se ausentar da votação devido à sua licença-maternidade, direito este garantido à mulher e previsto em lei. Outra deputada é interrompida durante o seu discurso de mesma duração dos demais deputados. A prática tem nome: manterrupting (termo de origem qualquer que trata da junção de “man” - homem e “terrupting” - interrupção). Outra deputada é vaiada o mais alto possível, até que, em algum momento, ela decide gritar para que possa ser ouvida. São tantos, tantos e tantos atos que deixaram mais evidente o machismo, a misognia e a falta de respeito de cada dia, em qualquer ambiente, independente da posição social.

Voltando a nossa presidenta Dilma, desde sua primeira candidatura ela é alvo de discursos machistas e misóginos. Cada vez mais esses discursos se agravam e as críticas ao seu governo se tornam sexistas. É o que acontece quando uma mulher está no poder, ou melhor, no mais alto cargo da sociedade: a presidência do país. São ataques da imprensa e da população direcionados à sua sexualidade, tendo o autoritarismo e o machismo como pano de fundo.

Isso só faz com que todas as conquistas femininas retroajam na história. Durante a votação do processo de impeachment da presidenta, o deputado Jair Bolsonaro exaltou e dedicou o seu voto ao torturador Ustra. “Perderam em 1964, perderam em 2016. Pelo Coronel Ustra, que Dilma tanto teme!”, foram as infelizes palavras proferidas pelo deputado. Ustra foi reconhecido como torturador durante a ditadura militar, no Brasil. O homem um dia torturou pessoas no pau-de-arara e na cadeira-do-dragão, com choque elétrico; que introduziu ratos na vagina de uma mulher; que fez afogamentos, sufocamentos e estupros. Homens e mulheres (muitas vezes grávidas) foram vítimas desses atos, inclusive Dilma, que teve seu torturador sendo exaltado para todo o país. O pior foi ver que muitos brasileiros apoiaram Bolsonaro e o seu infeliz discurso.

Mas, nada representa a alegria ao ver a força das mulheres, juntas, lutando em prol de nós mesmas e apoiando umas as outras. Nessa terça-feira, 21 de abril de 2016, ao descer do palácio do planalto, a presidenta foi ao encontro de várias mulheres que pediam pela permanência do seu mandado. Após as ofensas machistas dirigidas à Dilma (assim como à outras mulheres que estavam presentes na votação), manifestantes feministas se reuniram em frente ao Palácio do Planalto para um abraço coletivo, flores e vários: “fica, querida”. Depois de ter seu torturador, propositadamente, homenageado ao vivo para todo o país, essa mulher precisa de um pouco de paz. “É uma alegria para o meu coração, é uma transmissão de força e de energia”, disse Dilma após o ato de solidariedade de centenas de mulheres. E termino aqui com: Fica, querida!

Por Trás do Blog

Nós, da Disciplina Gêneros Jornalísticos 2015.2, sedentos em produzir e dispostos a ouvir e sentir, nos propusemos a focar nossas lentes no dia a dia, no ordinário, naquilo que passa despercebido por muitos, e que pode virar uma boa história carregada de verdades, humanidade e sensibilidade. Convidamos você a nos acompanhar nessa experiência de ler as entrelinhas do dia a dia, porque com certeza ali encontraremos o extraordinário!

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