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Patriotas por conveniência

Há alguns meses começamos a ouvir com maior frequência a famosa frase: “o Brasil está em crise”. Seja nas ruas, em casa, nas redes sociais, a palavra que martela a mente dos brasileiros é CRISE. E para muitos leigos a solução para essa tal crise é a saída da presidenta Dilma Rousseff do Governo. Claro, (pois, se ela sair, voltamos a bonança, acaba a corrupção, a inflação cai e viva a democracia!).

Da parcela total de brasileiros, podemos pegar a menor porcentagem e dizer que os indivíduos que a compõe sabem o que defendem, e para que defendem. E a maior porcentagem fica a mercê de embasamentos rasos, errôneos e de informações manipuladas por alguns veículos de comunicação, que fazem surgir de uma hora para outra um estranho patriotismo, exemplificado pelo filósofo Mario Sérgio Cortella em entrevista a um telejornal da TV Cultura:

“Curiosamente, muita gente tá colocando de novo a bandeira do Brasil no carro ou na porta da casa, na sacada do prédio. E acho curioso porque não tem tanta gente patriota assim desse modo. E fico me perguntando se alguns que colocam a bandeira do Brasil não são patriotas de conveniência, porque as vezes é uma pessoa que põe a bandeira do Brasil, mas tem conta no Panamá, tem coisas na Suíça, tem casa em Miami, isso é, da preferência ao produto estrangeiro. Então, esse patriotismo precisa ser melhor pensado”.

Na verdade, é um patriotismo improvisado, de fachada, no qual se levanta bandeiras, sejam elas vermelhas ou amarelas, gritam palavras de ordem nas ruas, postam diversas coisas nas redes sociais, sem um mínimo de conhecimento político, social, econômico e cultural do Brasil. Isso é ser brasileiro? Isso é ter amor à pátria? Se sim, preciso mudar com urgência a concepção de patriotismo que tenho.

Um dos mais recentes exemplos desse patriotismo de fachada, daqueles que estão no meio do “povão” sem saber ao menos o motivo, só para ter alguns minutos de fama na Globo e afins, é o caso do vídeo feito na manifestação pró-impeachment do dia 13 de março que circula pela internet desde então, no qual uma jovem de 17 anos é questionada pelo autor do vídeo se ela é a favor do impeachment de Dilma e o porquê. Ela diz que sim, e sem argumentos diz que “o país tá ruim com ela no Governo e que precisa de melhora”.

E ao ser questionada sobre o possível sucessor de Dilma caso ocorra o impeachment, ela se esquiva e diz que essa é uma pergunta muito difícil, que não conhece sobre presidência, mas sabe que “tá ruim assim” (???). Mas o que mais me chamou atenção estaria por vir. Por fim, o autor do vídeo pergunta se ela se considera de direita ou esquerda e ela responde: “de direita”. Ele pergunta o porquê e ela, em uma antológica resposta diz: “Que pergunta difícil. Mãe, vem cá, por que eu sou de direita?” Não há melhor argumento para respaldar o que foi posto nos parágrafos anteriores a este.

É inacreditável as formas como algumas dessas pessoas vão às ruas para lutar por algo que nem sequer sabem o que é e quais malefícios os resultados disso trarão. Falam de democracia em bares, feiras, lanchonetes, shoppings, sem nem saber o significado puro da palavra. De acordo com o Google, a palavra democracia tem origem no grego demokratía, que é composta por demos (que significa povo) e kratos (que significa poder). Neste sistema político, o poder é exercido pelo povo.

Porém, parte desse povo quer colocar nas mãos da câmara dos deputados e do senado, que são compostos, inclusive, por políticos investigados da Lava jato, o futuro do país e se esquecem que a porcentagem total desse povo elegeu a atual presidenta com mais de 53 milhões de votos. Nesse caso, a verdadeira democracia seria feita com a espera de todos pela próxima eleição, para que na urna e pelas mãos de todo o povo brasileiro fosse decidido o futuro do país.

No entanto, aqueles que se vangloriam nas ruas com camisas amarelas gritando “FORA DILMA!” não sabem, mas estão lutando pela aprovação de um golpe substancialmente disfarçado e aparentemente nem pensam na linha sucessória de Dilma: Dilma deposta – assume Temer, seu vice. Tramita no plenário um pedido de impeachment para ele também. Temer deposto – assume Eduardo Cunha, presidente da câmara. E sim, é aquele que foi várias vezes citado na operação Lava jato, das contas não declaradas na Suíça, etc.

É nítido que a oposição não quer o fim da corrupção, quer o monopólio. Precisamos de reformas políticas que vão atingir a todos os partidos e políticos, em que possamos realmente mudar essa situação e não continuar nessa troca de sempre que não muda nada e, vira e mexe, fazem surgir os débeis patriotas por conveniência.

Por Trás do Blog

Nós, da Disciplina Gêneros Jornalísticos 2015.2, sedentos em produzir e dispostos a ouvir e sentir, nos propusemos a focar nossas lentes no dia a dia, no ordinário, naquilo que passa despercebido por muitos, e que pode virar uma boa história carregada de verdades, humanidade e sensibilidade. Convidamos você a nos acompanhar nessa experiência de ler as entrelinhas do dia a dia, porque com certeza ali encontraremos o extraordinário!

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