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Um vencedor no esporte e na vida


Antônio Jesuíno da Silva talvez seja um nome pouco conhecido no cenário do esporte em Vitória da Conquista, porém, quando nos referimos como “Piolho”, principalmente os mais antigos na cidade logo sabem de quem se trata. Ídolo do futebol conquistense, campeão Baiano pelo Esporte Clube Bahia em 1974, além de atuar no Campeonato Brasileiro pela equipe tricolor, o fez, também, vestindo a camisa do seu maior rival, o Esporte Clube Vitória. Hoje com 66 anos, Piolho ainda mora em Vitória da Conquista e conta um pouco da sua história nessa entrevista.


Bahia Bicampeão 1974 (Gol do Piolho) Foto: A Tarde Piolho no Estádio Edvaldo Flores

(Esporte Clube da Felicidade: Bahia 70 anos de Glórias) Foto: PMVC (Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista)



EXTRA!ordinário: Piolho, bom dia. Como foram os seus primeiros passos para se tornar um jogador de futebol profissional? E qual o motivo desse apelido?


Piolho: Bom dia. Bem, na minha época era mais complicado, pois não tinha essa facilidade de hoje. Para conseguir uma chuteira era complicado, até a bola na época eram poucos que tinha (sic), comecei jogando com meus amigos e logo que tive mais idade fiz um teste pro time do Conquista e acabei passando. O apelido vem desde moleque, eu ficava aqui no Edvaldo – Estádio Edvaldo Flores, situado no bairro Alto Maron – só perturbando a meninada que ficava falando que eu era um piolho, e realmente pegou (risos).


EXTRA!ordinário: Quais foram as principais dificuldades que você encontrou no início da sua carreira?


Piolho: Foram várias (risos). No começo você não tem aquela mentalidade de um profissional ainda, e eu não sabia se conseguiria um dia jogar num time grande, então muitas vezes dependi da minha mãe para me animar a levantar e ir treinar, mesmo com uma família gigante [Piolho possui 18 irmãos] ela confiava muito que eu conseguiria e isso me ajudou muito nessas dificuldades de jovem, principalmente no futebol.

Um passado repleto de boas lembranças.


EXTRA!ordinário: Naquela época o Vitória da Conquista tinha um grande time, quais recordações você guarda até hoje?


Piolho: Ah, com certeza. Desde 68 que a gente tinha um time muito forte, o Gaúcho no gol, Naldo, Naninho, era um grande time. Lembro que a gente brincava bastante e se divertia no jogo, era muito divertido. Como eu era novo, aquela foi uma das melhores fases da minha carreira, grandes clubes tiveram interesse no meu futebol e isso me deixava muito alegre, pois naquela época era bastante difícil despertar esse interesse dos grandes.


EXTRA!ordinário: Tem uma história de que o Cruzeiro mandou um representante para te buscar, mas você não foi, isso realmente aconteceu?


Piolho: Tem sim, na verdade eu até iria, como eu falei a gente tava jogando muito bem e acabou tendo esse interesse aí. Eu não fui por causa da minha mãe que me falou que não queria que eu fosse, que não era pra eu abandonar Vitória da Conquista, aquela época tudo era complicado, e eu sempre fui muito obediente a minha mãe e decidi que não iria.


EXTRA!ordinário: Pelo Bahia você foi campeão baiano, seu título mais importante. Mas você jogou pelo Vitória antes, como foi sua transferência pro time de Salvador e depois pro maior rival?


Piolho: É, foi tudo por causa do time do Conquista. No ano de 71 a gente jogava uma bola refinada, tinha eu, tinha o Naldo, que foi pro Cruzeiro, Jaimilton, Neves, muitos jogadores de qualidade, e quando tem um destaque no campeonato os times de Salvador já querem essas promessas, isso é até hoje. Então foi dessa forma que tudo ocorreu, só que pelo Vitória eu não consegui muito destaque e já estava até um pouco desanimado quando tive a oportunidade de ir pro Bahia, e não pensei duas vezes. Como são os dois times que toda criança da Bahia quer jogar eu aceitei a proposta, e deu sorte né. Na final de 74 Deus me abençoou e eu fiz o gol que deu o título pra gente. Foi uma festa danada, foi o melhor dia da minha vida, Thirson tocou a bola pra mim e eu mandei pra dentro, isso no comecinho do jogo, nunca vou me esquecer desse dia.


EXTRA!ordinário: Hoje em dia o futebol dá milhões para jovens promessas, como foi no seu caso? Como você leva a vida hoje?


Piolho: Pois é, né, hoje eu tava milionário (sic) (risos). Naquela época a gente não ganhava tão bem assim, mas pra época era suficiente para nós. Graças a Deus nunca tive problema com álcool e drogas então sempre tive minha cabeça no lugar pra poder levar a vida. Hoje eu trabalho com os meninos na escolinha aqui do Edvaldo e dou uma ajuda na organização da LCDT (Liga Conquistense de Desportos Terrestres), é o que vai dando pra a gente levar a vida, hoje não me preocupo muito com luxo não, minha missão no futebol eu já cumpri.


EXTRA!ordinário: Qual o recado que você deixa para quem está iniciando no esporte?


Piolho: O recado que eu tenho pra essa meninada de hoje é ter a cabeça no lugar, se envolver com as pessoas certas, hoje tem muita gente que só quer saber de ganhar dinheiro com essa molecada aí que sabe jogar bola. Estudar primeiramente, eu não tive essa chance, pois era muito difícil e a gente trabalhava desde muito novo, mas hoje tá tudo aí na mão, é só trabalhar duro para ir atrás do sonho sem se envolver no mundo do crime.


EXTRA!ordinário: Piolho, muito obrigado por tirar um pouco do seu tempo para responder essas perguntas. Para finalizar, você acredita ter o reconhecimento merecido?


Piolho: Eu que agradeço, é o que sempre digo pros meus alunos. Quem faz as coisas direito sempre vai ter sucesso na vida. Pra isso basta seguir sempre no caminho da paz e confiar em Deus que tudo acontece. Graças a Deus tenho meu reconhecimento pelo povo que me viu jogar e também tenho apoio da prefeitura que colabora com os projetos aqui. Não ganhei dinheiro como esses meninos de hoje, mas agradeço a Deus por tudo que vivi e pela experiência que posso passar pros mais novos.

Por Trás do Blog

Nós, da Disciplina Gêneros Jornalísticos 2015.2, sedentos em produzir e dispostos a ouvir e sentir, nos propusemos a focar nossas lentes no dia a dia, no ordinário, naquilo que passa despercebido por muitos, e que pode virar uma boa história carregada de verdades, humanidade e sensibilidade. Convidamos você a nos acompanhar nessa experiência de ler as entrelinhas do dia a dia, porque com certeza ali encontraremos o extraordinário!

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