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Convulsão classificatória: enfraquecimento da unidade nacional

Inserido nas expectativas do cenário econômico internacional, o Brasil sofre com a pressão do mercado externo, reflexo intrínseco da globalização negativa, e com uma crise nos três campos básicos da estrutura de uma nação: economia, política e sociedade. Esta última, baseada em uma análise de conjuntura(o quadro da estrutura social em um dado momento). No entanto, quando se trata de transformação cotidiana, efeito imediato e de manifestação popular no cenário atual, é no plano político que encontramos o nosso foco. A última vez que falamos tanto sobre política foi no início dos anos 80, período das Diretas Já.

O momento atual é de tensão. Somos, em abrangência, o produto de uma série de problemáticas que são frutos de um sistema capitalista, em que a disseminação cultural da ideologia de liberdade e igualdade se contrapõe à divisão aparente entre privilegiados, desprivilegiados e super privilegiados. Somos, a nível histórico, a imagem confusa de um processo político confuso que, ora, é analisado desde as eleições que deram a Lula o seu primeiro mandato até a "atualidade Rousseff": um governo com uma base de aliados instável; um PT de esquerda nas eleições e de direita no cumprimento da gestão; a tentativa de conciliação de classes e sua falha em tempos de crise; a constante ilegalidade administrativa a fim de defender os interesses de algumas autoridades; e o enfraquecimento do Estado, colocando o País nas mãos da iniciativa privada. As multinacionais estão ditando as regras de conduta da gestão.

Todo esse cenário contribui para que a população não se reconheça nos seus representantes políticos e nem entenda a conjuntura na qual está inserida, já que teoria e prática, aparentemente, nunca são vias de uma única mão. Nesse contexto, não há mais uma identidade maior que torne possível a unidade da nação. Amontoados de interpretações e classificações, tomam bares, ruas e mesas de jantar. As inimizades são acentuadas pela ausência de uma consciência comum, o que faz com que os interesses mais individuais se tornem parâmetro para o agir, e instrumentos de ordem, como a Constituição, sejam violados e tenham seus valores diminuídos. Abre-se espaço, então, para a oposição oportunista, de ficha suja, conservadora, que se apresenta como solução ao fazer um apelo ao maniqueísmo.


O mito do partido de esquerda e a conciliação de classes


Munido de pautas comumente da esquerda para ascender ao poder, o Partido dos Trabalhadores (PT) se vê abandonado pelos “seus”. Entre o assistencialismo que, sim, levou melhorias às camadas populares, o PT não rompeu com a política de favorecimento das grandes empresas que já era praticada, por exemplo, pela gestão Tucana(1995-2003) de Fernando Henrique Cardoso. Educação e saúde de qualidade saíram, ao longo desses 12 anos petistas, da relação de prioridades do governo. A instrução por direito, arma para a emancipação e para uma luta justa por melhorias na qualidade de vida, não chegou às mãos dos trabalhadores e trabalhadoras. A implantação de uma política de conciliação de classes, em que patrões e patroas mantém seus exacerbados privilégios disfarçados de amizade para com a mão-de-obra explorada e em que a ideologia maquiavélica de se fazer o bem em doses homeopáticas é pertinente, não foi suficiente para preservar a simpatia da população pelo Partido e nem resistente às crises capitalistas.

A problemática em se ter preservada a imagem do PT como um partido de esquerda é a publicidade positiva para a direita, inclusive, para aquela vestida de fascismo. Esta, por sua vez, vem atraindo jovens desavisados e "calouros" nas questões políticas, utilizando de um discurso que define a crise como de esquerda.


A Esquerda Medrosa


Ao temer a tomada de poder pela oposição direitista de práxis conservadora, que deslegitima e se faz um empecilho nas reivindicações de direitos pela camada que chamamos de "minoria", ou pelos partidos de oportunismo escancarado que se "pongam" nos lados de maior concessão midiática, surge a esquerda medrosa. Esta, por circunstância de posicionamento, acaba se rendendo a um dito reformismo e aos discursos construídos sobre a base de uma máxima desvelada falaciosa: o Partido dos e para os trabalhadores. O receio político dessa esquerda potencializa as representações petistas que insistem em exibir o marketing da campanha Lulista do início dos anos 2000 como um troféu e uma inteiriça realidade de toda a gestão do partido, encobrindo incompetências.


A ala da abstenção


Enclausurada em uma conjuntura política da qual não vê saída, uma parcela dos nascidos ou politicamente criados no meio das discussões esquerdistas se abstém do posicionamento por não ver sensatez e legitimidade em nenhuma "frente de defesa". Trata-se de indivíduos cientes, mas que, ao mesmo passo em que assumem uma impotência diante das problemáticas do meio no qual estão inseridos, se mantêm inertes frente às potenciais transformações. No entanto, não se escapa da história. Principalmente, quando ela se constrói no fervor de uma crise. Logo, a não escolha é uma escolha e não existe um "nenhum lado", existem direções diferentes. E, como todas as demais, elas são e serão peças de como está e como poderá vir a ser a configuração do cenário político, econômico e social do país.


A comuna fitness


Baseando-se em uma análise de dimensões acadêmicas, dentro das instituições de ensino superior, sobretudo, públicas, cresce o número de estudantes que responsabilizam não só a gestão, mas o sistema capitalista como um todo, pela crise enfrentada. Eles repudiam o reformismo e assumem um posicionamento "autônomo" que não atende à nenhuma das soluções propostas pelos dois lados visíveis - que se diferenciam na superfície do discurso, mas acabam por atender a mesma política burguesa. Os estudantes em questão são os nossos mais recentes comunistas.

Propõem uma mudança do sistema político-econômico, por apontar o atual como a causa dos conflitos políticos e das problemáticas de cunho social: precarização da saúde e do ensino; discrepâncias sociais exorbitantes, etc. O comunismo período 2013/2016 está, ainda, condicionado à Academia, aos debates ideológicos que permanecem na abstração e no dogmatismo Marxista de quase dois séculos, não havendo, assim, mobilização da classe trabalhadora e nem efeito prático e imediato na conjuntura brasileira contemporânea.


Direita tiete


Em reação ao retorno das massas às ruas durante as Jornadas de Junho de 2013 e ao crescimento exponencial do requerimento das pautas de esquerda que visam transformações políticas e mudanças nas diretrizes morais da sociedade: alterações no código penal com a finalidade de conferir visibilidade às "minorias" e a concessão, por lei, de determinados direitos - tendo a inclusão como objetivo - às categorias até então inviabilizadas, surge a Nova Direita. No entanto, esta não se destaca pelos estudos sobre o neoliberalismo, mas sim pela idolatria às figuras públicas estrelistas, polêmicas e hostis. Marcada por uma juventude branca, de classe média alta, cis e heterossexual, os nossos novos direitistas não compartilham de um conhecimento histórico consistente e vão às ruas pedir por uma nova intervenção militar. Não mantêm uma coerência política e fazem parte daqueles que estão nas ruas alegando ser contra a corrupção, enquanto apoiam um impeachment acolhido juridicamente por Eduardo Cunha.

Tornando celebridade indivíduos como Jair Bolsonaro, a nova direita se mostra em consenso com a política de guerra e deixa evidente que esse ideal de conservadorismo tanto exibido por ela, conserva os interesses individuais, mas não uma Constituição forjada há quase 30 anos. Este novo formato direitista é imaturo, egoísta e inconsistente e oferece perigo a nossa já frágil democracia.

Por Trás do Blog

Nós, da Disciplina Gêneros Jornalísticos 2015.2, sedentos em produzir e dispostos a ouvir e sentir, nos propusemos a focar nossas lentes no dia a dia, no ordinário, naquilo que passa despercebido por muitos, e que pode virar uma boa história carregada de verdades, humanidade e sensibilidade. Convidamos você a nos acompanhar nessa experiência de ler as entrelinhas do dia a dia, porque com certeza ali encontraremos o extraordinário!

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