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Sobre desencontros

Por Victória Lôbo

      Estávamos andando calmamente quando, como sempre, algo me distraiu. Não lembro se foi o céu que estava muito azul, as folhas da árvore que estavam amarelando, os meus pensamentos me atordoando ou todo o conjunto que me levou para outro mundo.

- Para de sonhar acordada! – gritou ele, me assustando.

- Eu não estou sonhando, só estou pensando. – respondi irritada.

- Você sempre faz isso, me deixa falando só, nunca presta atenção. Você só pensa em si mesma, tente ser menos egoísta. – me repreendeu mais uma vez.

      “Como contornar algo que faço involuntariamente, que nem mesmo eu gosto? Por que tenho que agradar todo mundo?”; meus pensamentos tentavam responder esses questionamentos, enquanto o meu corpo desviava do caminho que seguíamos juntos.

      Desabei.

      Uma senhorinha simpática, ao ver meus olhos inchados, me parou.

- Minha filha, por que uma menina tão nova carrega em si uma expressão tão triste?

- Não sei. – falei tão grosseiramente que fiquei ainda mais triste e chateada comigo.

- Na minha época, as mocinhas da sua idade carregavam um olhar sonhador, feliz, andavam saltitando, eram felizes consigo mesmas.

     Ao dizer isso, a senhorinha saiu. Fiquei mal por não tê-la tratado bem, mas na hora eu só conseguia achá-la uma velha chata, que, como todas as pessoas mais velhas, acham que o seu tempo de juventude era melhor. Não pensei com carinho, não senti gratidão pelas suas palavras. A senhorinha, intencionalmente ou não, me fez pensar sobre a discussão de mais cedo, sobre aprender a ouvir as pessoas.

     Um dos maiores problemas das pessoas atualmente é só querer falar e não escutar. Acabamos perdendo momentos pensando no nosso próprio ego, achando que só nossa opinião é válida. Agora, passando e repassando a cena, fico taxando-me como rude. Não deveria estar me julgando, deveria levar as palavras daquela senhora em conta, ela não iria querer me ver assim.

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